terça-feira, 2 de novembro de 2010

Circunstância

"I just don't know 'cause it leaves a taste of emptiness, and I think What if I'm simply depressed? blind, just finding rest from my mind here in Budapest? confusing zest with the joy of being blessed with the bliss of self-escape as we kiss? and mixing my being unstressed with your being undressed and the taste of being true with the fresh taste of me and you as we touch?" - Ending Theme, Pain of Salvation


De volta.
Como, em alguma circunstância, eu poderia dizer que está tudo bem se ainda e já é dia e nem me levantei da cadeira a girar o piãozinho de plástico debruçada sobre a escrivaninha esperando não o tempo passar: de que adianta o tempo passar! - mas esperando apenas o pião tombar, sem força, para que eu possa girá-lo mais uma vez e de novo e de novo.


"to be honest I don't know what I'm looking for"

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Amar em exílio

Incapaz de lidar com a ausência.
Sempre fui. Percebo a coisa como quase patológica: a ter três borrachas (nem as uso mais), cinco pedras reserva de isqueiro (quanto tempo dura uma pedra de isqueiro!), desodorantes e perfumes iguais (o medo de sair de catálogo), caixas de incensos repetidos, tubos de tinta de caneta, como se eu não pudesse usar outra qualquer enquanto não substituísse a tinta daquela. Como se eu não conseguisse mais ser eu mesma, e essas coisas são tão simples e descartáveis. O dia em que a fábrica do sabonete mudou de dono minha mãe, me conhecendo, já me trouxe oito sabonetes iguais, do estoque do mercadinho, caso parassem de fabricar.
E o medo de estragar um livro e a editora não imprimir mais exemplares por vários anos. Confesso que tenho livros repetidos.
A verdade é que eu não consigo lidar com um possível provável próximo fim das coisas, tamanha insegurança e desespero de incompletude; aquele frio atômico na espinha do viciado quando sacode a caixinha já vazia do remédio.

Perdendo um pedacinho eu sei que me desmancho no chão

Isso do que é material e consumível, isso do que eu poderia - sim - viver sem ou restituir fácil alguns dias depois (ainda que passados com certa dificuldade e insônia - a verdade é que tenho insônia até na véspera de comprar a coisa-reserva).
Agora que dizer do que é insubstituível, do que é irrecuperável, daquilo que estou perdendo neste segundo, das pessoas, dos amores, que dizer disso que tenho cada vez menos porque esgotou-se e não recuperarei mais porque deixará de existir por completo antes de mim, antes de mim!.

que não é medo do fim mas de sobreviver a ele. Existir sem. Amputada. Que é uma palavra muito feia...



"The thought of leaving you - I do not know how." - Chainsling, Pain of Salvation

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

diante

"Let me tear myself apart, I need to breathe." - Undertow, Pain of Salvation


01/08/10
Existe, é verdade, o momento em que se é feliz e que se ama. Existem. Mas diante do tempo futuro, diante do passado, daquele dia específico, diante de toda a semana que se anuncia, de toda a vida que se espera, diante de toda saúde que tenho!, de todo potencial, do poder-vir-a-ser e também diante do poder-não-vir-a-ser - não significam mais que uma breve distração, o amor e a felicidade.

A verdade é que já me caí deitada faz tempo, e não na posição de quem descansa ou dorme confortavelmente, nem na posição do morto: resto ao chão na disposição embrulhada e contraída de quem sente dor e caimbra aguda no corpo todo, sobretudo na cabeça e no coração.

Eis a projeção - do quê? Do que poderia ser, dizem, mas que é, na realidade, o que poderia ter sido, dito assim já no pretérito, porque não há mais como recuperar. não há.


Quanto tempo mais?

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Clarice me chama

"Que transponho suavemente alguma coisa... É a impressão. A leveza vem vindo não sei de onde. (...)

Os momentos vão pingando maduros e mal tomba um ergue-se outro, de leve, o rosto pálido e pequeno. De repente também os momentos acabam. O sem-tempo escorre pelas minhas paredes, tortuoso e cego.

Aos poucos acumula-se num lago escuro e quieto e eu grito: vivi!"



Clarice?



(*trecho de Perto do Coração Selvagem)