quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sendo

Minha sede é tanta que não sei se leio algo novo ou releio o que esqueci. Reviver ao mesmo tempo em que vivo. Quero ler e reler junto. E de trás pra frente, que reler e reviver são palíndromos. Viver não.

(...viver não.)

Mas esses olhos - essa cabeça! -, de tão cansados que já não me servem mais...

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Mantra


"Quero viver porque existem algumas poucas pessoas com quem gostaria de passar o maior tempo possível.."



(Tempo de migrar para o Norte, Tayeb Salih)



- Quero viver porque existem algumas poucas pessoas com quem gostaria de passar o maior tempo possível. Quero viver porque existem algumas poucas pessoas com quem gostaria de passar o maior tempo possível. Quero viver porque existem algumas poucas pessoas com quem gostaria de passar o maior tempo possível. Quero viver porque existem algumas poucas pessoas com quem gostaria de passar o maior tempo possível.

Ego

Como (não) me permito sentir, cito Camus como se (não) o sentisse.

"Sobretudo, não acredite que os seus amigos lhe telefonarão todas as noites, como deviam, para saber se não é precisamente essa a noite em que decidiu suicidar-se ou, mais simplesmente, se não tem necessidade de companhia, se não está com vontade de sair."

(A Queda)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A pedinte

Outra madrugada uma senhora pedinte me rogou, comlicençadesculpeincomodarviu, se eu não podia contribuir, que não era pra leite pra criança, que para falar a verdade,

- eu queria comprar um refrigerante...
- Quanto é um refrigerante?
- A, deve tá 3 real.
- Credo. - respondi abrindo a carteira.

Entreguei-lhe exatos RS2,75, que era tudo o que eu tinha de miúdo. A senhora estendeu a mão já falando um muitobrigadaviu,deuste...

E nesse hiato milesimal, ela viu que eram menos que 3 reais, e eu, percebendo, virei minha cara de comoassim para o outro lado, como não querendo acreditar no que estava para acontecer, quase me arrependendo de antemão, torcendo com máxima concentração pra ela escutar sem eu ter que dizer, inconformada: "eu sei que aqui não tem três, mas é tudo que posso dar!".

Mas nesse mesmo hiato milesimal, o bom-senso veio-lhe às mãos, e, como ela não soubesse o que fazer com o bom-senso, recolheu a própria indignação com um ódio todo atrapalhado e confuso, e terminou,

- ... abençoe. - já virando as costas e indo embora, não sem eu perceber que mexia no dinheiro, contando-o, ainda sem entender.

do Subsolo

Pós-teatro Memórias do Subsolo (Dostoiévski), quero eu me fincar no meu próprio subsolo.

"O fim dos fins, meus senhores: o melhor é não fazer nada! O melhor é a inércia consciente! Pois bem, viva o subsolo! Embora eu tenha dito realmente que invejo o homem normal até a derradeira gota da minha bílis, não quero ser ele, nas condições em que o vejo (embora não cesse de invejá-lo. Não, não, em todo caso, o subsolo é mais vantajoso!) Ali, pelo menos, se pode... Eh! mas estou mentindo agora também."

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Veia auricular

Horizontalmente na orelha um pouco acima de uma linha imaginária que a dividiria no meio passa uma veia que se subdivide em duas e que quando dilata tem-se a sensação de que se corta a orelha ao meio e a rasga com violência de dentro pra fora como se de lá fosse sair uma tripa um órgão um ser inteiro.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Mil agre

Às vezes gosto de repetir exaustivamente as palavras até elas perderem o significado - geralmente causam estranheza.

Ocorreu-me com "milagre".
Milagre da vida. Milagre da morte. Milagre.
Milagre.
'Foi um milagre!' Milagre.
MI-LA-GRE.
Agre faz ficar feio.
"Milagrosa" então me soou quase obsceno.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Post-it

Às vezes preciso me reler para me lembrar de quem sou.